Amanhã (sábado) à noite é a minha vez de fechar as malas, cheias não só com roupas e sapatos, mas cheias de novas experiências, de novas vivências e memórias acumuladas pra uma vida inteira. É estranho pensar que agora eu vi e vivi coisas que muita gente passa a vida sem viver. Louco né? Mas, como eu disse, viagem é um investimento que sempre vale a pena.
Vai ser estranho voltar pra casa e não ter mais essa viagem pra ansiar. Mas, enquanto esse momento não chega, vou levar vocês pra alguns últimos passeios em Roma, começando pelo Museu do Vaticano, a Capela Sistina e a Basílica de São Pedro.
Essa é a visão da janela do museu do Vaticano |
Pode parecer repetitivo, mas as suas aulas de história eram todas verdade, só que elas só te contam um pedaço mínimo do que é o complexo. Então vamos lá...
A entrada do Museu do Vaticano fica antes da praça, bem antes. Você praticamente entra pelos fundos do Vaticano. O Ingresso custa 16€ e você tem duas opções: agendar um horário de visita e pegar uma fila mais rápida pra entrar ou tentar a sorte e ir sem marcar nada, como eu. No meu caso, porém, acabei pegando a fila mais rápida porque "you have problem with your hands". Frase de um dos caras que passam informações na frente da entrada. Nunca usei da minha deficiência (inclusive odeio essa palavra) pra levar vantagem em nada, mas eles me obrigaram a seguir pela fila da direita. Ok, não vamos discutir porque eu já tava muito atrasada mesmo.
Logo na entrada, você passa pelo detector de metais e o raio X, que nem no aeroporto. Vale lembrar que, por ser um local sagrado, o lugar tem algumas regras de vestimenta: você não pode entrar de shorts ou camisas sem mangas, muito menos decotes muito profundos. Ok, nada muito absurdo que já não seja regra em qualquer igreja da cidade.
O próximo passo é comprar o ingresso para os museus (sim, no plural!). Longe de ser um prédio velho, como você imaginaria, você segue a multidão e desemboca em uma área bem moderna, com cara de universidade importante e logo vê os boxes de compra e as lojinhas. Aliás, se você pensa que só os Estados Unidos usam a técnica de lojinha no final dos passeios, o Vaticano tem várias lojinhas DURANTE cada visita.
Mas continuemos... o ingresso custa 16 euros, como eu já havia dito. Mas, para a minha sorte, o atendente olhou pra essa minha cara eterna de 15 anos e pediu uma identificação de estudante. "I don't have one". "It's ok, go ahead". Paguei meia.
A partir daí é só uma questão de seguir o fluxo de pessoas com câmeras apontadas pra todos os lados. O maior problema desse lugar é justamente o que faz dele algo tão fantástico: tudo é tão lindo que dá medo de olhar pra um lado e perder algum detalhe do outro. Sério, acho que nem morando lá dentro uma vida inteira você conseguiria ver tudo.
Aqui as indicações dos museus do complexo |
Aí, durante o passeio, você tem duas opções, seguir para a Capela Sistina por um caminho mais direto ou fazer o caminho mais longo e passar por quase todos os outros museus antes. Mas gente, quem é que vem até Roma pra fazer o caminho mais curto??
Se você gosta de museu, o passeio realmente vale a pena. Além da arte sacra, que você já esperaria no Vaticano, você encontra exposições egípcias, gregas, romanas, renascentistas, cerâmicas da síria e da palestina e até arte contemporânea! Acredite se quiser... Mas as esculturas "modernas" dos Papas foi uma das coisas mais bizarras que eu já vi.
Ah, vale dizer que essa é uma visita longa e pode ficar ainda maior, dependendo da sua vontade de ver cada coisa. Como eu disse, são muitos detalhes, então a ideia é tirar um dia inteiro pra visitar o Vaticano, incluindo os museus e a basílica. As salas, por si só são arte que vale a pena ser apreciada. O passeio do Museu do Vaticano é pra quem gosta de coisas bonitas e velhas...
Se vale pela curiosidade, a parte mais legal pra mim são as pinturas mesmo. Primeiro porque o renascentismo sempre foi o meu período preferido, segundo porque ver telas ao vivo, em tamanho real, que eu só via nos livros ou no google é incrível! É bizarramente louco pensar que pintores como Rafael Sanzio, Michelângelo e Da Vinci viveram de verdade e, ali, você tem provas concretas disso.
Acho que bem por isso, ver a "Academia de Platão" ao vivo foi tão impactante. Primeiro porque foge da temática religiosa da maioria das salas, segundo pelos detalhes, pelos traços. Acho que foi um dos quadros que eu me permiti olhar mais. Sempre fui fascinada pelo realismo dos quadros desse período, mas vê-los de perto, em tamanho gigante, torna tudo ainda mais impressionante.
Tive vontade de abraçar todos os meus professores de história, artes e filosofia da vida inteira vendo esse quadro |
O caminho segue, sempre com as placas direcionando para a Capela Sistina que, convenhamos, é o objetivo de todo mundo ali, mesmo com as distrações pelo meio. Já no corredor, você vê milhares de placas proibindo fotos e vídeos. Sim, é por isso que dificilmente você vai ver no álbum de viagem no seu amigo uma foto da "A Criação de Adão", de Michelângelo, aquela em que Deus e o homem tocam as mãos. Você tem duas opções aqui: acreditar em mim ou vir ver por si mesmo.
É difícil saber pra onde olhar! Tudo é lindo demais! |
Depois da capela, você ainda passa por uma exposição específica da igreja. Desde batinas especiais, cruzes e demais artefatos usados pela igreja ao longo dos séculos. São lindos, de materiais riquíssimos e hiper trabalhados. Todos os hiperlativos são poucos para esse lugar.
Outra coisa legal desse complexo de museus é que você também pode visitar os jardins e relaxar um pouco em algum banco por lá. Algumas áreas até dão vista pra cúpula da Basílica de São Pedro. Lindíssima!
Eu já disse que esse lugar não tem um ângulo feio? |
Fim do descanso, sai do museu. AH! ANTES DISSO! Tem um 'post office' dentro do Vaticano! Você pode mandar um postal lá de dentro! O postal custa 0,50 euro e o selo depende do local que você vai enviar. Claro que eu fiz isso e enviei lá pra casa (custou 2,30 euro para as Américas). Provavelmente vai chegar depois de mim, mas vai ser incrível receber, tendo tão viva na memória esse dia. Mal posso esperar. <3
Próxima parada, a Basílica de São Pedro. Pra falar bem a verdade, meu objetivo maior era repetir uma foto que meu pai tirou na cúpula da basílica, 22 anos atrás. Sim, você pode pagar algo em torno de 6 a 10 euros e subir no topo do Vaticano! Porém... como todos os lugares turísticos, a fila estava gigantesca, mal conseguia ver o final, então desisti da ideia e decidi visitar 'só' a Basílica mesmo, que é de graça.
Uma dica importante: eles estão em todos os lugares, mas desvie dos grupos de turistas e, principalmente, dos grupos de japoneses. Eles fazem questão de ocupar bastante espaço, falar bem alto e parar em todos os mínimos lugares... é irritante. Pensando bem, é quase assim que a gente reconhece os brasileiros aqui também, eles estão sempre falando alto, como se ninguém fosse entender. Mal sabem vocês...
Ah, assim como o Coliseu, esses passeio do Museu do Vaticano e da Basílica também tem os audioguias que você pode alugar para acompanhar as informações ao longo do caminho. Sempre nessa faixa de 6 euros. Vale a pena se você estiver planejando um passeio mais detalhista que o meu.
Na basílica, você já dá de cara com uma ostentação absurda de estátuas e detalhes banhados a ouro. A nave da igreja é imensa e, ao longo dela, várias esculturas em tamanhos gigantescos de antigos papas e santos católicos ocupam as colunas e paredes. É quase assustador passar por ali, porque as esculturas são tão perfeitas que você se sente observado. Não ficaria nada confortável passando por ali sozinha, com certeza. Pra minha sorte, isso é praticamente impossível.
A área mais próxima do altar estava, nesse dia fechada. Aparentemente, aconteceria uma celebração especial naquele dia e muitos padres e freiras já começavam a se acomodar. Você pode ficar e assistir, lógico, mas é mantida, nesse caso, alguma distância.
Essa era a área fechada para a celebração |
Outra curiosidade legal é que tem uma parte da basílica reservada para os confessionários. Sim, aquele mesmo que você aprendeu na época da catequese. Só que, na Basílica de São Pedro, eles são divididos por idioma, sinalizado em cima do confessionário. Você pode procurar o português e se confessar lá mesmo (não sem encarar uma fila, provavelmente).
Eu sabia que esse era meu último passeio em um monumento imponente dessa viagem, então, depois de rodar a basílica inteira, sentei um pouco por ali e fiquei só tentando absorver o máximo de detalhes possível do lado de dentro e da praça logo ali. Foi difícil sair da praça São Pedro naquele dia porque caiu a ficha de que, em pouco tempo, eu já vou estar muito longe de novo. Meu medo é ter a sensação de que isso tudo foi um sonho maravilhoso, mas um sonho.
Por isso, faça questão de tirar várias fotos, mas também se permita esquecer os registros tecnológicos um pouco e realmente observe em volta. Muitas vezes, a sua impressão pessoal não sai na foto e é ela que faz a diferença entre a sua experiência e a das milhares de outras pessoas que vem aqui. Se permita construir laços emocionais com os lugares pelos quais você passa e isso vai ficar marcado de um jeito diferente, pode ter certeza.
A noite de sexta-feira, foi, portanto, minha hora de abusar da gastronomia. Lasanha, vinho e um tiramissu de sobremesa. Momento blogueira ostentação, mas, se você pensar bem, tudo isso saiu por 20 euros. (eu já mencionei como é barato aqui? basta saber onde ir) As pessoas dificilmente acreditam, mas dá pra viver tranquilamente com 10 euros por dia.
Partimos do restaurante pra um daqueles pontos que só quem mora aqui poderia saber: uma fábrica de "corneto" (o famoso croissant), que fica aberta 24 horas. Vou deixar você imaginar por um minuto o preço de um dos símbolos da colunária italiana, antes de te dizer que, nesse lugar, custa só...
0,60 euros. Choremos.
Tem corneto com nutela, com creme, com frutas. Ah sim, os italianos comem tudo doce, mas ok porque eles são maravilhosos em criar essas delícias.
Ser feliz custa só 0,60 euro, viu gente |
O sábado de manhã, que seria meu último dia em Roma, acabou sendo frustrado por uma chuva. Então me contentei mesmo em fechar as malas e sentar pra escrever esse post.
Não tinha nenhuma pretensão de virar um guia turístico de Roma, mas acho que viagem é uma coisa pra se compartilhar, pra quebrar preconceitos e barreiras e mostrar que não precisa ser rico pra viajar. Mesmo. Ainda pretendo fazer um último post só sobre verdades inconvenientes que ninguém te conta quando você vem pra cá, e espero que da próxima vez que eu falar pros meus amigos "vamo comigo?", não receba uma cara de espanto.
No mais, hora de voltar pra casa. O que não é ruim, já que tudo que é familiar pra gente está lá. Mas vou sentir saudade de Roma, sou muito grata a essa cidade por tudo que eu vi e aprendi aqui. Espero voltar algum dia pra ver se a sensação de "já fiz isso antes" vai se misturar com a sensação de primeira vez que eu tive mesmo vendo e revendo cada coisa nesse lugar.
Também preciso agradecer demais a Ariela, lógico, que me recebeu na casa dela e se desdobrou em mil pra me acompanhar pela cidade nessa última semana. Foi até assistir tênis comigo! Por causa dela, tive a chance de conhecer Roma de um ângulo diferente, pela visão de quem mora aqui e conhece todos os truques pra fugir das armadilhas de turistas. Foi muito legal também ver que a nossa amizade continua a mesma, ainda que já tenha muitos anos que a gente não conviva diariamente. Acho que foi, no geral, uma aventura muito positiva e o coração fica apertadinho de ir embora, sem saber a data de volta, mas, no final, "Rome" sempre vai ter um pouquinho de "home" também.
Arrivederci, Itália. Olá Brasil!